segunda-feira, 12 de agosto de 2013

o poder

As palavras sempre tiveram um poder anormal sobre mim, todo o tipo de palavra, escrita, cantada, rabiscada, dita, acho que a de menor peso sempre foi a dita, mas elas nunca deixaram de ser poderosas, um dos motivos eu acho que é por que sempre tive medo de esquecer.
Lembro-me que quando perdi meus irmãos eu dizia pra minha mãe que tinha medo de esquecê-los, esquecer que tive irmãos.
Meu irmão mais velho eu convivi 15 anos, mas o caçula foram menos de 11 meses, e eu tinha e ainda tenho medo de esquecê-los, esquecer seus rostos, por isso eu me forçava a lembrar deles, eu me forçava a sentir dor porque assim não os esqueceria, e hoje, por incrível que parece, um dos poucos rostos que lembro mais claramente é o deles, da minha infância eu tenho poucas lembranças, as poucas, a maioria é com eles, eu não os esqueci, e esse medo de esquecer me fez começar a escrever, escrever também pra fugir, pra deixar sangrar.
Meus textos são e sempre serão bem pessoais, é impossível não me enxergar neles, não me ver escrevendo-os, eles são uma extensão de mim, eles são a mim. As palavras não brotam, elas escorregam de mim, elas falam de ódio, falam de amor, falam de escuridão e falam de luz. Elas falam disso porque elas falam de mim, assim como as palavras dos outros falam delas e é por isso elas são tão poderosas, pelo menos pra mim.
Quando ouço uma canção eu não me prendo só ao toque, eu procuro a letra e me coloco sentada num balanço de baixo de uma árvore ao lado da música pra que ela me conte mais do que as suas linhas possuem, pra que ela me conte a verdade, pra que ela me fale sobre o que vai além. Do mesmo modo faço com os livros, eles são mais que páginas com letras impressas, eles contêm uma alma, uma história que se entrelaça com a alma de quem a escreveu, ela se entrelaça com a minha alma e é preciso tratá-la como algo maior que apenas palavras amontoadas com um sentido explicito, elas vão além, todas vão, e essa riqueza de poder tocar a alma de alguém é algo que me fascina desde a infância.
Lembro-me que minha professora de português do fundamental tinha uma caixa de livros e nos obrigava a lermos alguns a cada passar de meses, lembro-me que li vários, mas o que mais me chamou a atenção não me recordo o nome, só o enredo, me recordo que a protagonista dizia que somos aquilo que acreditamos e que o que acreditamos se torna real, não me lembro de jeito maneira o nome, mas lembro sua essência, lembro a verdade que ele trazia a mim, e foi assim que aprendi que palavras são mais do que como são publicadas, aprendi que o erro não é esquecer o formato, o rosto, mas esquecer a essência, nunca direi com exatidão uma frase, uma história, por mais que ela me marque profundamente, sempre a direi como a vejo, como ela é atrás de toda a roupagem, assim também com as palavras ditas, elas talvez não sejam tão importantes pra mim, porque aprendi a longas penas, que nem sempre falamos com a alma, mas apenas com o impulso, e essas palavras não tem real significado, não merecem ser aprofundadas, assim como os status rápidos das redes sociais, eles só são palavras fiadas, sem importância, sem alma, não merecem demora de quem as assisti.
Desde quando aprendi tudo isso, mesmo que inconscientemente e instintivamente, eu comecei a buscar a essência das coisas, o que elas diziam de verdade, a árvore que se balança, o vento que sopra ao meu rosto, o amigo que olha com carinho, o livro que se entrega aos meus cuidados, o cantor que deixa vazar a alma, o pecador que tem alma, a essência sempre foi mais importante, sempre, e as vezes, essência não se explica, só se sente, e sentir não é algo fácil de retalhar e mostrar, talvez por isso eu tantas vezes apenas me calei diante da pergunta, diante do choque. Do que adianta tentar explicar, do que adianta mostrar como vejo, as pessoas não tem a minha alma, não tem meus olhos, elas são elas e isso as faz diferente, e elas nunca vão entender porque me expressar é tão importante, porque escrever é algo que eu não posso abrir mão, elas nunca vão entender porque eu entendo com tanta facilidade, elas nunca vão entender o porque eu insisto em amar o diferente, porque eu insisto em ser diferente, porque insisto em ser eu, insisto em não me anular e porque as vezes eu insisto em não explicar, porque as vezes eu insisto em só sentir.
Acho, de verdade, que todas as palavras já estão lá, só esperando que o véu se rasgue e elas apareçam, é como as cicatrizes, elas existem desde sempre, eu tive uma pequena, minuscula fase de auto-mutilação, não foi realmente uma auto-mutilação, apenas me feri algumas vezes, mas eu sinto que minhas cicatrizes existem debaixo de minha pele, elas não precisam sair, elas já estão lá. Por exemplo, eu sinto que há uma em mim mim que pega todo o meu antebraço direito, na parte interna, não me pergunto como eu sei que existe, como a sinto, apenas sei que há uma fenda lá, uma ferida aberta, não física, mas psíquica, eu sei que ela é fruto da minha mente, mas ela existe, ela nunca vai ser exposta, mas ela existe desde sempre, e há outras em meu corpo, escondida aos olhos, visível a alma, e é assim também vejo as minhas tatuagens.
E quando me questionam sobre tirar tatuagens, digo que acho besteira, porque as pessoas podem não mais ver, mas você sempre irá saber que ela esteve lá e que sempre estrá mesmo que agora não mais visível, então do que adianta realmente?
Sobre as minhas elas não vão deixaram de existir se apagá-las ou não fazê-las, porque elas já estão lá, cada uma, para mim elas não são só arte, elas são expressões, elas são, as já feitas e não feitas, palavras com almas, com a minha alma, minha expressão.
Pra algumas pessoas pode ser uma coisa fútil, e na realidade pode até ser, mas pra mim não, elas existem dentro de mim, algumas pessoas tatuam onde não conseguem ver pra não enjoarem, já as minhas sempre serão visíveis aos meus olhos, porque elas já são há muito tempo visíveis a mim, dentro de mim elas sempre foram, e mesmo que a partir de hoje eu nunca mais tatue nada, na verdade todas, todas as que fiz e que não fiz já estão em mim, de um modo que ninguém pode ver, mas elas existem, e toda vez que eu olhar pra o lugar que elas residem, mesmo que elas não estejam visíveis, eu as vejo, eu as sinto, assim como cada texto que escrevo. Sempre digo que quando eu namorar não quero aliança, não quero porque isso é mostrar pra alguém, aceito até um simbolo, um colar talvez, mas não um anel, porque não tem que ser pros outros, minhas tatuagens não são pros outros, elas são pra mim, são pra Deus, meu modo de falar com ele, assim como meus textos, pra Ele, mas não pros outros, por isso acho que nunca me preocupei realmente que me entendessem, nunca me preocupei realmente de explicar o significado, porque isso na verdade é insignificante pros outros e realmente é tudo pra mim.
Nunca irão me ver indo até um cantor ou um autor para perguntar o que ele quis dizer com determinada frase, personagem, pessoa, porque não me importa, só me importa o que significou pra mim, importa o que disse a mim, isso pode ser visto como relativismo, mas sério do que me importa o que pensam? bem, nada! Porque eu sei há uma verdade em toda a essência e ela não é mutável.
Acho que por isso sempre fui mal em interpretação de texto, nunca disse o que meus professores queriam ouvir, eu dizia o que entendia, eu dizia o que sentia, eu dizia sobre a alma que ali eu recolhia, e sentir não é algo que se tenha por série, é único, e eu nunca me rendi a massa da interpretação, sempre busquei mais, a contrapartida sempre me coloquei a ouvidos, posso não gostar de explicar, mas admiro uma boa partilha e explicação, não que eu me renda ao modo que o outro vê, mas me abro a ver além, além da onde minhas feridas me impedem de ver, aprendi a ouvir e aprender com o outro, isso é valioso, as palavras são valiosas, sua essência na verdade é pura e ao mesmo tempo carregada da realidade e  da verdade, da verdade de cada um.
Por isso sou movida pela música, embalada pela dança, apaixonada por palavras, estampada por frases, amante de filmes, introspectiva num verso.
Bem eu sou assim, bem, eu serei sempre assim, e talvez nunca ninguém entenda, mas bem, veja você, que eu não me preocupo com isso, me preocupo muito mais de não me deixar ser impedida de ser assim.

Ps: se eu tivesse todo o dinheiro do mundo, teria uma casa confortável, um carro bom e todo o resto gastaria em livros, filmes, viagens e numa árvore, porque minha alma não chora por dinheiro, na verdade ela chora por almas, pela essência.

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